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sábado, 3 de setembro de 2011

RECICLAGEM DE MATERIAL RADIOLÓGICO

 SÁBADO, 03 DE SETEMBRO DE 2011

Como funcionário do Hospital das Clínicas do Recife, lotado no setor de Radiologia, e tendo observado tamanha a quantidade de filmes de Raio-X, Tomografia, Mamografia, Ressonância, entre outros, me bateu uma certa curiosidade em saber qual destino seria mais ambientalmente correto para esse tipo de material tanto lá no hospital como também em clínicas particulares, além dos exames que as pessoas guardam em casa depois de sua utilização e que não têm mais importância diagnóstica.

Essas chapas utilizadas nos exames de imagem, um dos mais importantes instrumentos de apoio a inúmeras áreas da medicina, são um exemplo típico de não-conformidades com as normas e leis de segurança e ambientais vigentes no Brasil, que incluem os impactos ambientais causados pela significativa geração de emissões e efluentes (soluções de fixador, de revelador e água de lavagem dos filmes radiográficos) contendo substâncias tóxicas e da geração de resíduos sólidos (os filmes radiográficos) constituídos de material plástico impregnado com metal pesado (prata).

O processo de revelação de filmes radiográficos é bastante antigo e vem sendo empregado até hoje nos serviços radiológicos de saúde. Os filmes radiográficos são folhas de acetato de celulose revestidas por duas camadas de emulsão de gelatina contendo haletos de prata. A exposição de cloreto de prata à radiação ionizante excita os cristais de cloreto de prata, iniciando um processo de redução dos íons de Ag+ a prata metálica, Ag0, e formação de cloro ou outras substâncias, no caso do cloreto de prata misturado com gelatina, por exemplo. Esta exposição forma uma "imagem latente". O processo tradicional de revelação dos filmes envolve as seguintes etapas: a revelação da imagem latente (que reduz a prata metálica dos cristais excitados), a fixação (remoção do cloreto de prata não afetado pela exposição), a lavagem e a secagem.

A etapa de lavagem gera efluentes contendo todos os componentes do revelador e do fixador e de seus produtos de reação: hidroquinona, quinona, metol, tiossulfato de sódio, sulfito de sódio, enxofre elementar, ácido acético, acetado de sódio, ácido bórico e outros, além de prata, sob a forma de íons complexos com S2O3. Esses efluentes também não podem ser descartados no meio ambiente, pois, da mesma maneira que os demais, não satisfazem aos padrões para lançamento de efluentes estabelecidos pelos órgãos reguladores.

Recomenda-se que os reveladores utilizados em radiologia sejam submetidos a processo de neutralização (por profissionais qualificados) para alcançarem pH entre sete e nove — o índice de pH mede a acidez do produto químico. Só depois disso podem ser descartados no sistema local coletor de esgotos, desde que atendam às diretrizes dos órgãos de meio ambiente e saneamento. Já os fixadores devem ser submetidos a processo de recuperação da prata e também de retirada de outros metais pesados, caso estejam presentes. Mesmo se decidir jogar os líquidos no esgoto, o utilizador vai precisar retirar a prata. Por isso, a recuperação é a alternativa mais usada.
Enfim, as empresas de reciclagem desses materiais utilizam os cristais de prata para transformá-los em talheres e jóias. A partir de outro material restante da reciclagem das chapas, o acetato, podem ser fabricadas caixas de presentes e bolsas.

Pode também ser utilizada alguma outra alternativa em que haja diminuição na utilização desse tipo de material nos exames de imagem. No Hospital das Clínicas, onde trabalho, aos poucos está sendo implantado um método mais moderno de gerar essas imagens e que agride menos o meio ambiente, além de trazer benefícios econômicos e sociais. É a digitalização dos exames através do PACS, um sistema que proporciona o armazenamento e comunicação de imagens geradas por equipamentos médicos que trabalham com imagens originadas em equipamento de TC, RNM, US, RX, MN, PET, etc., de uma forma normalizada possibilitando que as informações dos pacientes e suas respectivas imagens digitalizadas e, armazenadas em mídia eletrônica sejam compartilhadas e visualizadas em monitores de alta resolução, distribuídos em locais fisicamente distintos. 

Alguns filmes ainda terão que ser impressos, como os requisitados para fora do hospital, mas de qualquer forma haverá uma drástica redução da impressão de exames, diminuindo assim a agressão ambiental. 

Esse sistema traz vantagens econômicas, devido ao custo desse material para o hospital, além do que existem empresas que compram chapas usadas; vantagens sociais, no que se refere a agilidade em que os médicos terão acesso aos exames, acelerando assim o diagnósticos dos pacientes; e vantagens ambientais, pois diminuirá a utilização desses materiais que provêm da natureza e que depois voltariam de forma nociva.

Lembro ainda que muitas pessoas pegam seus exames, levam para suas casas e quando não precisam mais os descartam em lixos comuns. Essa não é uma prática recomendada. O correto é devolvê-los ao hospital ou às clínicas de origem, procurando saber se estes estabelecimentos possuem política de reciclagem, ou então, procurar um posto de coleta seletiva  em sua cidade.




Fontes:
Artigo: Análise e gerenciamento de efluentes de serviços de radiologia - Por: Geraldo Sérgio Fernandes; Ana Cecília Pedrosa de Azevedo; Antonio Carlos Pires Carvalho; Maria Lucia C. Pinto

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