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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

REAPROVEITAMENTO DO PAPEL PELA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

 QUINTA-FEIRA, 08 DE SETEMBRO DE 2011

Estudo comprova a viabilidade técnica e econômica da utilização de resíduos da fabricação de papel na produção de blocos cerâmicos. Há três anos os blocos cerâmicos comercializados pela Cerâmica Brioschi, localizada Piracicaba/SP, contêm, em sua composição, o caulim, material nobre utilizado na fabricação de porcelana. Apesar do aprimoramento de seu produto, produzindo blocos de melhor qualidade e mais bem acabados graças à utilização do caulim, a olaria reduziu despesas. Esta façanha só foi possível devido à parceria firmada com a unidade de Piracicaba da Votorantim Celulose e Papel (VCP), que fornece o resíduo da fabricação de papel para a olaria. Mas não é somente a Cerâmica Brioschi que está sendo beneficiada. A VCP está deixando de acumular em seus aterros estes resíduos que se decompõem muito lentamente.

O projeto teve início em 1995, com a participação do Departamento de Ciências Florestais da ESALQ/USP. A Votorantim (na época IPP), que vinha buscando há algum tempo uma solução para o problema de disposição de seus resíduos, procurou a professora Adriana Nolasco para desenvolverem com seus resíduos projeto semelhante ao que ela havia desenvolvido em sua dissertação de mestrado. Na época a VCP produzia cerca de 10 toneladas diárias de resíduos, que era disposto num aterro próximo à fábrica. A empresa precisava dar uma destinação adequada para este material.


A professora Adriana desenvolveu, para sua dissertação, um estudo sobre a viabilidade do aproveitamento de resíduos da indústria do papel na produção de argamassa para a construção civil. "O aproveitamento desses resíduos na construção civil é viável, já que esse setor utiliza grande quantidade e diversidade de materiais", explica. No caso da argamassa, o estudo de Adriana concluiu que o material resultante era leve, isolante térmico e acústico, e poderia ser utilizado para diversos fins. Essa argamassa poderia ser usada na fabricação de placas para forro e de bloco para uso interno na construção, no enchimento para painéis de divisórias e para enchimento de lages de edifícios.

No projeto com a VCP decidiu-se por testar o aproveitamento de resíduos em material cerâmico para a construção civil. Foram testados diferentes traços, incorporando várias quantidades diferentes de resíduos no processo de fabricação de blocos cerâmicos para se chegar à quantidade ideal. Concluiu-se que é possível incorporar entre 10 a 30% de resíduo na produção do bloco. Posteriormente, a resistência dos blocos produzidos foi testada. Ficou comprovado que a resistência era a mesma que a do material convencional. "Conseguimos um material que incorpora o resíduo sem perder a qualidade", comemora a professora.

Os testes realizados por este estudo, baseado na composição do resíduo da VCP, indicam também que não há riscos para a saúde humana, tanto para o usuário final como para o trabalhadores envolvidos no processo de produção dos blocos ou na própria construção civil. "Quando trabalhamos com resíduo é preciso ter um controle muito rigoroso. No caso da indústria de papel, o resíduo não representa perigo à saúde humana", diz.


Material nobre – O resíduo da fabricação de papel é composto por 70% de caulim e 30% de celulose. No processo de produção do bloco foi observado que o acabamento ficou muito melhor, já que o caulim é um material de excelente qualidade, utilizado na fabricação de porcelana. Durante o processo de queima, utilizando o resíduo, foi consumida menos energia. "Ainda não temos uma comprovação definitiva, mas acreditamos que a celulose distribuída no material ajuda na queima", estima Adriana.


Apesar das vantagens para as cerâmicas e olarias, a professora Adriana acredita que a economia maior é para a industria de papel, que teria que dispor este resíduo em algum lugar. Além disso, esse material quase que não se decompõe, já que a maior parte de sua composição é mineral, formada por caulim. A celulose também demora para degradar-se. Desta forma, são necessários grandes aterros, transporte, monitoramento e uma área grande dentro do território urbano, no caso da Votorantim. Na época do estudo, estimava-se que o custo da VCP, para tratamento e disposição do resíduo, era U$ 97 por tonelada de resíduo de sua fábrica. Destinando esses resíduos para as olarias e cerâmicas, o aterro já não é necessário. "É vantajoso para os dois lados, mas principalmente para a indústria de papel. Além da redução de custos, as empresas precisam cada vez mais atender a exigência do mercado pela certificação, que engloba todo o processo fabril, incluindo o destino dado aos resíduos", explica.


A VCP remodelou sua fábrica no ano passado, aumentando sua produção e o volume de resíduos gerados chegando à 1 mil toneladas mensais. Antes disso todo o resíduo gerado por ela era aproveitado pela Cerâmica Brioschi. Atualmente a VCP tem novos parceiros e continua destinando todo seu resíduo para cerâmicas da região. Para as cerâmicas envolvidas no projeto é vantajoso substituir o consumo de argila pelo resíduo, que está disponível num local muito mais próximo e possibilita a fabricação de produtos de melhor qualidade. Para a sociedade, são resíduos que poderiam estar dispostos em aterros na área urbana, levando muito tempo para se decompor, mas que agora já têm destino certo: a fabricação de blocos para a construção civil.   

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